quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

A Irmandade - Relato de jogo


de TIAGO JUNGES,
no grupo Larp Brasil, no facebook.
21 de novembro de 2018

No último domingo aconteceu o segundo encontro da Irmandade, um Larp de investigação sobrenatural. Venho aqui registrar o encontro e falar um pouco sobre o game design do jogo.

Este foi o segundo encontro (terceiro se contar o "beta" que fizemos há 2 anos atrás) e seguirá bimestralmente aqui em Porto Alegre. Este Larp ambientado nos dias de hoje conta a história de um grupo de caçadores de seres sobrenaturais que está se formando na cidade a fim de combater uma ameaça sobrenatural ainda desconhecida. Seguindo os passos de uma antiga organização de mesmo nome, a Irmandade se organiza em missões entre um encontro e outro para conseguir mais pistas sobre os mistérios que rondam a cidade. Nos encontros, as trocas de informações e planejamentos tomam forma, além dos conflitos pessoais. As mídias e acontecimentos recentes moldam o cenário e criam novas possibilidades para os personagens.

Como organizador e game designer, eu projetei este larp com várias premissas. A principal seria fazer um larp de campanha em que eu pudesse apenas preparar os materiais de texto e trocar por email, sem precisar de preparações no dia do evento. Outra premissa era a construção de um cenário complexo e com tramas dirigidas pelos próprios personagens (mas de fácil absorção). Ainda é cedo pra dizer se este último objetivo está se concretizando, mas acredito que estamos no caminho certo. Eu também quis trazer elementos legais dos larps de Vampiro, mas sem as hierarquias e competições, trazendo para um jogo de cooperação. Não significa que não há política, claro que tem, porém, ela acaba sendo pano de fundo.


Um elemento importante do design que coloquei é em relação ao "objetivo" dos personagens. Uma coisa que sempre notei é que apesar de todos jogadores terem algo em mente, alguns raramente são ativos. Nesse grupo que temos hoje, eles até são minorias, mas em outros larps de campanha que organizo costuma se ter muita gente assim (larps one-shot de personagens prontos nao tem esse problema). Isso também acontece em RPGs, mas é bem diferente. Com um narrador ao seu lado para notar isso, ele irá fazer de tudo para te colocar na ação. A minha solução foi a regra de "Missões". Basicamente, durante o larp os jogadores são incentivados a trocar informações e saberem o que cada personagem irá fazer entre um encontro e outro. Achando e organizando um grupo para investigar algo, ao final do encontro eles anotam seus nomes numa ficha de missão. O legal é que apesar de eu dar pistas de novas missões em cada missão e cada background de personagem, os próprios jogadores podem propor missões novas. 

Na prática, eu fiquei um pouco tenso depois do primeiro encontro, pois não parecia que a regra de missões tinha dado certo. Muitos durante o jogo não se preocuparam em se organizar e deixaram pros últimos minutos. Felizmente, nesse último encontro foi diferente. Além de eu ter falado bastante na conversa antes do larp, a maioria tinha percebido no primeiro encontro que esse era o caminho. Notei também que o cenário se expandindo abriu mais motivações para que alguns jogadores aprofundassem seus personagens. 

Entre um encontro e outro, eu escrevo um relatório para cada missão. Eu tenho 2 meses para isso, e como eu gosto disso, é um prazer. Inicialmente meu plano era fazer um Play by Email (PBEM) mas a demora por resposta causa travas e acaba que as missões poderiam nunca ser completas antes do próximo encontro (ou irem para outro lado). Por isso optei por eu mesmo definir as ações dos personagens na missão. Quando os jogadores fizeram seus personagens eu mandei um questionário sobre a postura do JOGADOR e o que ele espera do personagem. Usando essa informação eu defino as escolhas desse personagem, e escrevo inteiramente o relatório da missão e mando para os participantes da tal missão um email com ele.

Eu criei 3 tramas de mistério acontecendo paralelamente na cidade de Porto Alegre. Alem disso, existem tramas pessoais, muitas inventadas pelos próprios jogadores, que acabam ou se somando as principais ou fazendo uma outra linha de investigação. Os jogadores já estão organizando uma WIKI para centralizar suas informações e passar para os outros jogadores (links em breve). 
Estamos com um grupo pequeno de 18 jogadores (25 cadastrados) e espero continuar pequeno. Talvez ter no máximo 30 jogadores ativos. Ter muita gente no larp pode acabar fazendo o jogo perder foco. Conseguimos combinar com o dono de um pub da cidade para fazermos os eventos lá, fechado só para nós. Pretendo seguir bimestralmente, então o próximo encontro é em Janeiro.

As regras estão aqui para quem quiser ler: A Irmandade



FONTE: Postagem no grupo Larp Brasil, no facebook, em 21 de novembro de 2018 - https://www.facebook.com/groups/118658425001980/posts/993604430840704/