quinta-feira, 15 de novembro de 2012

LARP. Zombies, bifanas, tiros de espuma e catanas

Por Joana Azevedo Viana, publicado em 23 Maio 2012

Marque na agenda: em Setembro chega uma nova forma de brincar ao apocalipse e às conspirações


Foi a pinta de Zombie Master que safou José Jácome da prisão. Chegado de Londres com shotguns e um cinto de balas verdadeiras – ainda que “usadas e esvaziadas de pólvora” –, foi chamado a uma sala de segurança do aeroporto de Lisboa para esclarecer a alfândega sobre possíveis intenções terroristas. “Lá acabaram por achar piada à coisa e deixaram-me passar com tudo.” Meses depois, vindo da Finlândia com oito máscaras de gás verdadeiras no porão, o filme repetiu-se. Os seguranças voltaram a perceber que era tudo por uma boa causa.

Jácome, de 30 anos, e o sócio Philip Kirkby, de 37, são os responsáveis pela chegada do Live Action Role Play (LARP) a Lisboa. Depois de organizarem noites de jogos de tabuleiro de terror em edições do MotelX e de abrirem o Clube de Jogos de Carnide, a nova aventura é trazer para a capital os ensinamentos dos países nórdicos, verdadeiros profissionais de LARP. “Estive num congresso de oito dias disto na Finlândia. Ficaram todos contentes, aparentemente fui o primeiro português a participar num encontro destes.”

Jogar LARP é um do-it-yourself meio preparado meio improvisado: as pessoas são os peões, a cidade o tabuleiro, vale tudo para sobreviver e há histórias e missões a desenrolar-se constantemente. “Mas isso não quer dizer que as pessoas não possam entrar a meio”, explica Jácome. “Vamos fazer uma campanha que começa em Setembro, quando abrirmos inscrições, e vai haver um jogo por mês. A história vai acontecendo, mas são todos bem-vindos em qualquer altura.”

Para já, ainda muito está no segredo dos zombies. Para publicitar a novidade, a dupla está a preparar uma curta que deverá passar na próxima edição do MotelX. Para que tudo corra bem é preciso ensaiar. E sem saberem bem ao que iam, uma jornalista e um designer do i acabaram por se infiltrar nas primeiras gravações, num cenário apocalíptico digno de Romero: ela como caçadora, ele como zombie.



EPIC WIN Estamos numa mansão abandonada em Algés, com vegetação a perder de vista, espaços recônditos e umas 40 pessoas em plena transformação. Faltam algumas horas para a final da Taça de Portugal, mas ali quem reina são os mortos--vivos, não o futebol. Toda a gente respondeu ao chamamento do grupo LARP Lx no Facebook para passar um domingo diferente a caçar e a ser caçado. Receita com tudo para dar certo.

Entramos por um talho ensanguentado para a zona de maquilhagem. Estava combinado que cada pessoa se zombificaria, mas Cypress, uma das presentes, acaba a cobrir caras com argila, a pintar feridas com tintas e gelatina e a usar groselha como sangue, borrifando-a em roupas usadas cedidas pela organização.

O designer do i usa um blazer bege pendurado num gancho do talho, senta-se na cadeira da caracterizadora e, em cinco minutos, está transformado. A jornalista apaixona-se por uma máscara assustadora, pega numa shotgun com balas de espuma e prepara-se para a caçada. Os zombies já estão todos escondidos: nos edifícios, na zona da piscina, nas casas contíguas com mato por desbravar. Ouvido o tiro de partida, é incrível como se entra de imediato na onda. “Cuidado! Há uma horda!”, grita Kirkby, caçador companheiro, com uma minicâmara na arma e uma máscara de gás. Saltam zombies de todos os lados, correm, atiram-nos ao chão, mordem-nos. A jornalista é a primeira a ser transformada.

“Desta vez foi mais um jogo de escondidas do que LARP, porque em LARP há missões e objectivos a cumprir”, explica Jácome com uma máscara de porco e uma motosserra na mão, já o jogo tinha terminado. “Mas foi um epic win e serviu para aprender muito de logística e de como usar as câmaras para gravar tanto da perspectiva do caçador como do zombie. É bom poder ver o pânico quando um caçador é infectado.”

Nem só de zombies se farão os LARP. Desde o jogo em que todos são mercenários e alvos à história de alguém em risco de vida por querer denunciar terroristas, vai valer tudo. Os organizadores pedem uma pequena contribuição para as bifanas e as cervejas servidas nos encontros e para ir aumentando o arsenal falso. Depois vai ser só seguir instruções e entrar no jogo sem perder a cabeça.



 
FONTE da Matéria: Ionline (Portugal) - LARP. Zombies, bifanas, tiros de espuma e catanas, http://www.ionline.pt/boa-vida/larp-zombies-bifanas-tiros-espuma-catanas

FONTE do vídeo e fotos: Larplx, http://larplx.clubedejogos.com & Fanpage Larp Lx no facebook, https://www.facebook.com/larp.lx

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